Festa de Aparecida

Festa da Assunção de Nossa Senhora ao Céu

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três – está vendido para o senhor João Grava, diz o leiloeiro e, debruçando-se sobre o guarda-corpo do coreto, entrega um frango assado, embrulhado em papel manteiga. A massa de expectadores bate palmas e a banda municipal toca um dobrado, enquanto o leiloeiro pega outra prenda, um quarto de leitoa assado. Outro aglomerado de gente, esforçando-se para encontrar um lugar, é a igreja, de modestas proporções, mas que é o segundo Santuário de Nossa Senhora Aparecida no Brasil. Ali está o bispo de Botucatu em sua visita anual para realizar a crisma. Empurra-empurra da criançada disputando um copinho de sorvete por um tostão. O sorveteiro não vence girar o batedor, uma sorveteira primitiva, formada por uma tina contendo salmoura com gelo e dentro um tanque estanhado, onde era colocada a massa. Colocado no copinho com uma colher, o sorvete ficava com o formato do chapéu do bispo.

Durante as missas, rezadas de hora em hora, a partir das cinco da matina, era bobagem disputar lugar na igreja, o melhor era assistir de fora, em pé, pois eram muitos milhares formigando no pátio e desviando de barracas e camelôs vendendo doces e quinquilharias.

O reencontro de parentes e amigos é cheio de abraços, perguntas sobre fulano e sicrano, comentários de sucessos e desditas, pesares por falecimentos e promessa de novos encontros. Os botequins da vila, transformados em restaurantes, vendem macarronada com frango assado e muita bebida. Os namorados procuram as sombras e os lugares afastados para tornar o encontro inesquecível. A procissão, no final do dia, põe disciplina na festança. O bonito andor, com a suave e doce imagem de Nossa Senhora Aparecida, que levava muitos às lágrimas, é seguido pelo bispo, pároco, coroinhas, congregados marianos, as Filhas de Maria, vestidas de branco, com cinto e fita azul com a medalha de Nossa Senhora, e a multidão de devotos formam um cortejo que circunda a vila. Assim era a festa de Aparecida, primeiro distrito de São Manuel e povoado original da cidade, em meados do século passado e cuja tradição ultrapassou o sesquicentenário. 

Dia 15 de agosto é feriado em São Manuel para a grande festa de Nossa Senhora Aparecida, que faz parte do calendário da Igreja Católica. A diferença com o 12 de outubro, é que esta data foi determinada pela Lei nº 6.802, de 30/7/1980, que reconheceu oficialmente Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil e decretou o feriado para sua devoção. A festa do dia 15 de agosto é em alusão à assunção de Nossa Senhora aos céus. Pelos preparativos anunciados, a festa deste ano, com as características sociais da atualidade, com certeza manterá bem viva a tradição, acolhendo milhares de devotos. 

Pedro Grava Zanotelli

Fonte: JCNET